O DEMITIDO
Sujeito de paletó e gravata pega um papel (espécie de cartão de ponto), fica indignado e vai batido para sala do chefe.
SUJEITO: (Entrando na sala do chefe sem bater.) Eu vou falar tudo...
CHEFE: Que que é isso?
SUJEITO: Isso sou eu, seu funcionário, ou melhor, seu ex-funcionário!
CHEFE: O senhor está maluco? (1)
SUJEITO: Não. Eu estou demitido. E já que a vida não vale mais nada, eu vim falar umas verdades pra você!
CHEFE: Mas eu não demiti ninguém...
SUJEITO: Não?
CHEFE: Não. Eu não demiti ninguém, pelo menos até agora.
SUJEITO: Então me desculpe. Eu me enganei. Eu tava nervoso. Eu vou pra minha sala.
CHEFE: Não, senhor. Agora o senhor vai me dizer direitinho quais eram as tais verdades.
SUJEITO: Não tem verdade nenhuma, não senhor. Foi tudo engano...
CHEFE: Eu quero a verdade. Se não o senhor vai ser demitido.
SUJEITO: Eu ia dizer que o senhor é muito bacana com os seus empregados...
CHEFE: A verdade.
SUJEITO: Pois é. Eu ia dizer que o senhor paga bem.
CHEFE: A verdade.
SUJEITO: Eu tô falando...
CHEFE: Não, não está, não. Eu quero ouvir a verdade, por pior que ela seja. Se não for a verdade, eu ponho o senhor na rua.
SUJEITO: (Coçando a cabeça.) Sei lá... Eu ia dizer que o senhor explora a gente um pouco.
CHEFE: Um pouco?
SUJEITO: A verdade?
CHEFE: É.
SUJEITO: Bastante.
CHEFE: A verdade ou a rua.
SUJEITO: A verdade? (tempo) Que o senhor é um explorador.
CHEFE: Só?
SUJEITO: Não tá bom?
CHEFE: Não sinto a verdade completa.
SUJEITO: E ia xingar o senhor um pouco. Mas era só raiva...
CHEFE: Vai em frente. Vamos, coragem. Diga logo.
SUJEITO: Ladrão.
CHEFE: Só?
SUJEITO: Ah, meu Deus do céu... idiota.
CHEFE: Ia deixar a minha família fora disso?
SUJEITO: Nem tinha pensado nisso.
CHEFE: Não mesmo? Eu quero a verdade!
SUJEITO: Olha, isso pra mim não significa nada. (tempo) Filho da mãe!!!
CHEFE: Tá satisfeito?
SUJEITO: Acho que sim...
CHEFE: Aproveite, alivie o peito!
SUJEITO: (Rindo.) Corno! Corno manso!!!
CHEFE: Vai mais. (Ri também.)
SUJEITO: Pederasta! Marica! (tempo) Viado!!!!
CHEFE: (Rindo.) Agora tudo bem?
SUJEITO: Tudo bem.
CHEFE: Satisfeito?
SUJEITO: Tô satisfeito. Desculpe qualquer coisa...
CHEFE: Eu é que agradeço.
SUJEITO: Por quê? Porque eu xinguei o senhor?
CHEFE: É. Eu tô com problema de corte do pessoal e agora eu tenho uma justa causa pra pôr um empregado na rua. O senhor está demitido. Quer me xingar mais?
SUJEITO: Não. Eu quero dizer pelo amor de Deus pro senhor pensar melhor. Eu tenho família pra sustentar. Sou um bom funcionário... (Chorando.) Eu preciso trabalhar... Não faz isso comigo, não... Me perdoe... Eu trabalho doze horas por dia se for preciso... Eu é que sou o marica, pederasta, viado, filho da mãe, mau empregado. Me dê mais essa chance!
1 Não acho muito legal, mas pode ficar a ideia se a brincadeira de xingamento ficar exagerada até coisas cabeludérrimas. [N.A.]